Sexo & Textos
Escrever um texto é como ter uma relação sexual.
O sexo é uma troca de energia, um ato necessário para a procriação e para a satisfação fisiológica.
Redigir é imprescindível: igualmente energético,
gera prole e também satisfaz o ego.
Assim como o ato sexual precisa de um(a) parceiro(a)
– há quem não se importe com tal ausência –,
o ato de escrever precisa de alguém para ler,
ou não, caso o autor queira se resguardar no anonimato.
A verdade é que ninguém jamais redige algo para não ser lido,
se não, qual a graça e o motivo?
O sexo desprovido de amor ou paixão é a escrita mecânica, a prosa por encomenda;
o sexo animal é o escrito demiúrgico, angustiado, poético;
o sexo responsável, comedido, é a redação cautelosa, refinada.
Escrever é transar, chegar ao orgasmo, gestar, parir e amamentar nos poucos minutos da escrita.
Jogar um filho ao mundo, talvez colhendo os louros ou as desditas do fruto concebido.
O começo do texto pode ser considerado as preliminares.
Beija-se, abraça-se, excita-se de todas as formas possíveis para abrir o caminho para o porvir.
A preparação para pegar o leitor, não fazê-lo desistir, deixá-lo doidinho para continuar!
E é assim que começa um bom sexo, o início é um vislumbre do que vai acontecer!
Já o miolo do texto, a que muitos chamam de desenvolvimento,
é o desenrolar do sexo, o ir e vir, o balanço gostoso que gera delícia: o ato em si.
Há quem goste de ficar horas no meio, sem querer chegar aos “finalmentes”,
pois o prazer gerado com uma boa prosa é sublime... E quantos bons argumentos!
E quantos bons clímaces! Dependendo dessa fase, o final pode ser um incrível êxtase,
pode ser arrebatador, como um bom texto que lemos de cabo a rabo,
sem largar um só minuto esperando as derradeiras palavras!
E, por fim, a parte principal:
o fechamento da obra, a conclusão, o desfecho, ou seja, o orgasmo, o gozo lítero-carnal.
Premeditado, gérmen cultivado pelos autor
e co-autor(leitor ou parceiro(a)) que explode em virulento tesão.
Existem aqueles que asseguram que o redator escreve já tendo o final claro na mente.
Todos que se entregam à doce luxúria sabem que o orgasmo é o último porto, o porto seguro.
Às vezes o final do texto não funciona, assim como o orgasmo não vem.
São as intempéries da vida, os maus escritos ou as escritas tortas!
Dessa forma, uma arte milenar, a da palavra escrita, catalisadora do saber,
vai tomando rumo, vai se assenhorando da folha antes em branco, agora maculada,
desvirginada pelos sinais e ícones latentes de uma dolorosa poesia, de uma lenda exuberante,
de uma opinião formada, de uma narração documental, enfim,
de uma simbologia que cerca toda a humanidade,
todos os habitantes dessa nave desgovernada que é a existência.
Com sexo e muito texto ou sem sexo e com nada!
Por Gustavo Atallah Haun - Professor.